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E sinta-se em casa!

4.1.10

Crônicas (2004/2005)

Um dia de disputa em dose dupla











Inverno ou verão? inVERnÃO!


Logo no início do ano, fiquei sabendo que uma amiga vai para a Inglaterra, nas férias de verão. De onde o verão, na verdade, estará bem longe. Por isso, tive a brilhante idéia de dar a ela um cachecol. Só que ele teria de ser pink, combinaria perfeitamente com o estilo dela.
Ao mesmo tempo em que a idéia me empolgava, ela desanimava... Afinal, onde eu acharia, aqui no Brasil, país tropical, um cachecol para vender? E, para completar, pink! “Essas coisas se acha em países frios, ou, no máximo, lá no sul”. Assim eu pensava em meados de Janeiro... Mal sabia o que estava por vir.
De repente, o frio resolveu que atacaria o Brasil de uma vez por todas. Não que ele nunca tivesse feito isso, mas agora decidimos enfrentá-lo do modo europeu, apesar da friagem durar apenas uma semana por aqui. O cachecol, que antes era usado úmido e enrolado no pescoço dos soldados romanos, tornou-se “acessório imprescindível” para o inverno, segundo as revistas de moda.
O mercado de fios cresceu 20% se comparado à mesma época do ano passado. Os donos das lojas de aviamentos não vendiam tantos novelos de lã há tempos. Até as adolescentes entraram em intensa atividade, vista há alguns meses como “coisa de vovó”. Nas vitrines, os cachecóis são os donos do pedaço. Até em algumas lojas de trajes de banho. Combinação perfeita: biquíni e cachecol! Por que não? 
            O estranho é que o dicionário informa que a vedete da estação é “uma
tira longa de tecido, geralmente tricotada em lã à mão ou à máquina. É enrolada em volta do pescoço quando faz frio; agasalho para o pescoço, usado embaixo da gola da jaqueta, do paletó ou do sobretudo”. Obviamente é um adicional de frio! Obviamente para mim, mas acho que nem para todos... A quantidade que vi de mulheres usando blusinhas regatas com cachecol é impressionante! Sem contar as que vestiam mini saia, com as pernas de fora, mas o pescoço protegido. Aliás, isso é o que importa. Dor de garganta, nem pensar! Nas passarelas, as celebridades desfilam seminuas, mas de cachecol. Só faltou ir até às praias conferir o que estava acontecendo, mas não duvido nem um pouco de que uma ou outra estava tomando sol de cachecol... Não as culpo, estão usando da maneira original, devem estar se refrescando! Não coloquei a mão para ver se estavam úmidos!
O importante não é se aquecer, é estar na moda, como sempre. Só não tem um cachecol quem não quer. Eles existem de todas as cores, de todos os tamanhos, de todos os estilos e, principalmente, de todos os preços... Inclusive, em todos os camelôs!
A propósito, ainda não comprei o da minha amiga, e nem vou precisar: ela já ganhou um, confeccionado por uma outra amiga minha!



Perfeição a qualquer custo

Primeiro nos casos de estupro e risco de morte à mãe. Agora já se pensa em permitir o aborto no caso de bebês anencéfalos. É inexplicável a origem desse esforço de batalhar contra a vida. Contra a vida do outro, porque ninguém pensa que sua própria vida é inválida, por mais que não se esteja contente com ela.
Já vi quem diz que uma pessoa com essa grave doença não merece ser chamada de humana... seria um ser sub-humano, já que não possui cérebro, ou parte dele. Não entendo como uma criatura que nasce de um humano possa ser sub-humana. Só porque a criança está gravemente doente, não quer dizer que seja uma “coisa”.Um golfinho, por exemplo, possui um cérebro muito mais desenvolvido do que o nosso: será que ele é supra-humano? Duvido que alguém tenha coragem de dizer isso!
Esse seria apenas mais um passo para a grande “prática abortista”... assim como se chegou aqui por meio de dois casos que seriam exceções, daqui a pouco a exceção será o nascimento de um bebê. Apenas os perfeitos terão esse direito. Até unha encravada será motivo de aborto, afinal, a dor é horrível e a pessoa vai sofrer demais! Além, é claro, de ter que comprar sapatos especiais.
Melhor... quem sabe não formamos a humanidade perfeita? Sem defeito nenhum... todos iguais! Começo a achar que Hitler tinha razão... vamos matar os imperfeitos e construir uma raça pura sobre a Terra. Parece exagero, mas é por aí que as coisas estão caminhando.
A vida de um mico leão dourado é intocável, a humana descartável. Pelo fato da criança não ter uma longa perspectiva de vida, não quer dizer que podemos abreviar ainda mais as poucas horas às que ela tem direito. Difícil ver alguém que se matou por saber que tinha pouco tempo de vida. Geralmente, nessa situação, as pessoas procuram aproveitá-la ainda mais e alongá-la o quanto for possível.
Um bebê não tem como “aproveitar a vida” da mesma forma que um adulto, mas tem o direito de aproveitar o carinho e o amor sem medida e totalmente incondicional que é o amor da mãe pelo seu filho, sendo este saudável ou doente, sem mãos ou com mãos ou mesmo sem um órgão vital.
“Sou brasileiro e não desisto nunca”: não tenho dúvida alguma de que se pudéssemos perguntar a uma criança que ainda está no útero de sua mãe se ela gostaria de desistir da vida, a resposta seria esta.   








Um segundo, uma vida






Ameaça cada vez menor e mais potente

Não posso nem dizer que só falta falar... uma das maiores “pragas” do mundo moderno é o telefone celular.
Musiquinhas que não acabam mais! Tenho uma amiga santista e toda vez que alguém liga para ela, sou obrigada a ouvir o hino do Peixe! Na fila do banco, repasso na memória melodias de todos os tipos... desde a Nona Sinfonia de Beethoven, até a abertura do seriado “Friends”. Alguns têm capacidade para armazenar mais de quinhentas delas. Como se alguém tivesse tanta gente assim a sua procura, para identificar a pessoa pelo som. E, pior... como se fosse possível lembrar a quem “pertence” cada musiquinha.
Além disso, já ouvi falar que o celular provoca incêndios em postos de gasolina, atrai raios em dias de chuva e é suscetível a vírus de computador. Mas, mesmo assim, ele se tornou onipresente. Deixou de ser um luxo, para agregar-se à fisiologia de muita gente. Claro que não nego: o dito cujo tem lá sua utilidade. Mas daí para o exagero é apenas um passo.
Li no jornal que, na Suíça, estão criando um telefone móvel especialmente para a terceira idade! Com apenas quatro teclas, uma tela sensível ao toque (onde aparecem as fotos das pessoas da agenda de contatos) e localização via satélite. Se o dono estiver muito longe de casa, seus familiares são alertados. É melhor que ele escolha a farmácia mais próxima, ou terá complicações!
E não pára por aí. Em Israel, há uma empresa que desenvolveu um celular para surdos. Como ele ouve o toque? Pra quê toque? Ao receber uma chamada, o telefone aciona um sinal luminoso. Simples, não? É só não tirar o olho do aparelho e, muito menos, um cochilo depois do almoço... Para que se torne possível a comunicação, o interlocutor aparecerá na tela, para que o dono do celular possa ler seus lábios! Francamente... não sei como essas pessoas sobreviveram até hoje sem um celular!
Nem se faz necessário, porém, citar casos extremos. Caminhar por um shopping center já é o suficiente. Não é difícil reparar em algumas pessoas que você jura já terem nascido grudadas no celular. Geralmente, usamos as duas mãos para escolher o objeto a ser comprado e o tamanho diminuto dos aparelhos modernos faz a solução virar um problema para a postura e articulações: nada mais fácil do que segurar o aparelho entre o ombro e o rosto. Quem sabe, quando todos nascerem sem dentes do siso e sem apêndice, não nasçam também com uma terceira mão, na altura do ombro, para que possam segurar o celular, enquanto fazem compras?
Isso sem falar nos supermercados... cansei de ver homens resolvendo dúvidas existenciais, como por exemplo, a marca de farinha que deve ser comprada, pelo celular! Nesses tempos em que a conveniência está acima de qualquer coisa, tudo o que é mais fácil nos atrai. Fazer uma lista de supermercado é complicado demais...
Ninguém se prepara para uma reunião. Celular existe pra quê? É melhor ligar a cada cinco minutos para tirar dúvidas com os colegas. Preparar pautas então é coisa do passado. Tudo tem que acontecer rapidamente, na hora. E o celular, com sua sensação de imediatismo, “veste” como uma luva.

A conta do celular então... é muitas vezes uma ameaça maior do que os tais incêndios em postos de gasolina, somados aos raios e aos vírus de computador. Afinal, nenhum serviço é de graça!





9.12.09

Coautora do livro SONHOS EM CAMPO

"O País do Futebol pode virar, também, o País da Literatura Esportiva. Lembro que há dez anos reclamava-se, e muito, da ausência de uma bibliografia rica sobre o tema no Brasil. De lá para cá, muita coisa apareceu em todos os níveis possíveis de qualidade. Livros sobre times, biografias de jogadores, técnicos, almanaques. Mas livros-reportagens ainda estão nas prateleiras das novidades incomuns, embora estejam em crescente evolução nos bancos acadêmicos, incentivados por professores conscientes.



Este é o primeiro gol de placa da dupla Beatriz e Sílvia neste Sonhos em Campo. Não contentes em escolher o formato para seu projeto de conclusão de curso, decidiram transformar o amistoso em jogo oficial e, pela qualidade do material, o jogo é de final de Copa do Mundo. Copa, aliás, que é o ponto final dos sonhos que nascem no imaginário de garotos que ainda nem chegaram à primeira série, mas que já têm uma resposta ensaiada para a pergunta ‘o que você vai ser quando crescer’“Vou ser jogador de futebol. Como o Robinho”.
O futebol é o Eldorado de uma nação sofrida, descrente de oportunidades para subir na vida. No ‘terrão’ de Guarulhos, onde o jogador Edu iniciou seus passos, ou nas ruas de Roseira, onde o bicampeão mundial Zito foi descoberto pelo Santos de Pelé, crianças continuam tentando fazer gols. E imitando, em seus pensamentos ou em voz alta, as vozes de narradores consagrados levando seus golaços para o mundo. O mundo que eles sonham em conquistar quando levantam os braços para comemorar um gol no quintal de casa, no campo de várzea ou no campeonato da escola.
Conquistar o mundo? Ah, vai dizer que é tão difícil assim?!"
Arnaldo Hase (jornalista)